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terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Sobre o meu processo de ilustrar

Por Camila Carrossine (ilustradora convidada)


A querida Laura nos convidou para escrever no blog da Escrita Fina. Ela me disse que eu poderia escrever sobre o processo de ilustração. Então pensei: não posso escrever sobre o processo de ilustração, e sim sobre o meu processo de ilustração.
Acredito que como em qualquer processo criativo, cada autor (sim, considero os ilustradores autores) tem seu próprio método.
O meu funciona mais ou menos assim:
Recebo por e-mail o texto que vou ilustrar e imprimo para ler com calma sentada na poltrona do meu escritório (que tem o acento todo comido pela minha cahorrinha Nina). Antes de sentar de fato, gosto de preparar uma caneca de chá – café faz mal para meu temperamental estômago.
Então sento nessa poltrona, geralmente a Nina pula em cima de mim e se encaixa no espacinho que sobra do lado. Então ficamos eu, Nina, o chá e o texto prontos para embarcar nessa nova história.
Faço uma primeira leitura, rápida, do começo ao fim - sem interrupções, só para saber do que se trata em linhas gerais a história. Às vezes já me vem uma ou outra ideia de imagem em alguma parte do texto. Com o Cadê seu peito, mamãe? foi assim, logo me veio a ideia de uma flor sem uma das pétalas.
Em seguida leio novamente, parando nos lugares onde haverá divisão do texto e faço pequeninos esboços. Tento fazer isso de maneira lógica, começando pelo começo e terminando pelo final, mas sempre tem um ou outro trecho que empaca. Por mais que eu tente, a criação não se dá de maneira linear.
Começo a montar o boneco*. Nesse momento já se passaram uns dois ou três dias desde que recebi o e-mail com o texto. E desde então já fico absorvida pela história. É uma coisa meio incontrolável, ou seja, meu dia vira isso:
- 8:00 - Acordo pensando no livro.
- 8:30 - Tomo café da manhã pensando no livro.
- 9:00 / 13:00 - Trabalho no livro.
- 13:00 / 15:00 - Faço almoço (tentando me concentrar mais para não me cortar com a faca) e almoço pensando no livro.
- 15:00 / 18:00 - Trabalho no livro.
- 18:00 - Pausa para o lanchinho e ainda pensando no livro.
- Depois do lanchinho trabalho no livro mais umas duas horas e depois vou fazer coisas pessoais (sim, eu tomo banho).
- À noite janto e assisto a um filme ou a algum programa.
- Sono, sono, vou para a cama e leio algum outro livro, para tentar não pensar no livro que estou trabalhando.
- 1:00 / 8:00 - Durmo e às vezes sonho com o livro que estou ilustrando.

Haja paciência do meu marido, que me atura falando do livro o tempo todo.
Imagino que com atores seja um pouco parecido, pois entro no personagem e tento interpretar o texto de acordo com o que imagino que ele faria, como agiria.
Faço esse primeiro boneco (bem pequeno só para marcar distribuição de texto e ilustração) e aqueles trechos que ficaram empacados viram páginas em branco que preciso completar.
Construo um segundo boneco, esse sim, nas medidas do livro, para trabalhar melhor com a composição da página e, nesse meio-tempo, preencho as tais páginas que estavam em branco.
Como utilizo o computador para fazer as ilustrações, preciso escanear esse boneco que está com os desenhos a lápis e montar um virtual para que possa enviar por e-mail para a editora. (Se a Escrita Fina fosse aqui em São Paulo ou se eu morasse no Rio, levaria o boneco pessoalmente e aproveitaria para tomar um cafezinho, ou no meu caso, um chazinho).
Juntamente com esse boneco virtual, envio uma das ilustrações finalizadas, assim, a editora tem uma ideia bem próxima de como ficará o livro pronto.
Para mim, aqui já acabou o trabalho mais difícil. Com o boneco e a primeira ilustração aprovados o livro está praticamente pronto.
Começo então a fazer as ilustrações de fato. Aí são dias, semanas sentadas na frente do computador, desenhando e pintando. Trabalho duro, porém feito com grande satisfação.
Quando estão prontas, envio as imagens por e-mail e depois faço eventuais ajustes para que tudo saia direitinho.
É demorado, trabalhoso, às vezes bem difícil, e eu adoro.

*Para quem não sabe, boneco ou boneca é como chamamos o protótipo do livro, geralmente feito de maneira artesanal.

Um comentário:

Anônimo disse...

ela é minha preferida. love U camila. se nao fosse você...essas ilustraçoes nao poderiam ser tao bonitas. a tal flor é a coisa que mais os europeus aqui gostam. adoram ver uma flor sem petala e depois com petala. lindo, beijos e até breve